Resumo
José Miranda
Com o presente trabalho pretendemos divulgar três das obras de um autor francês contemporâneo, Erik Orsenna, consagradas à Gramática e à Língua francesa : La Grammaire est une chanson douce (2001), Les Chevaliers du Subjonctif (2004) eLa Révolte des Accents (2007).
Nestas obras, o Autor leva-nos numa viagem pela Língua e Cultura francesa, servindo-se dos elementos da Língua como personagens de uma narrativa em três partes, com fins didácticos e ao mesmo tempo literários, trazendo o discurso gramatical para o campo literário, de uma forma criativa e original.
Resumidamente, o Autor põe em cena elementos da Gramática, personificados, usando-os para contar uma história, cumprindo assim dois objectivos : ensinar e divertir.
De referir também o facto de nas obras de Orsenna, os aspectos literários e culturais franceses (e outros) estarem sempre presentes pela evocação de nomes das Letras ou da Música como La Fontaine, Marcel Proust, Saint-Exupéry, Piaf, Henri Salvador, mas também Herman Melville, Joseph Conrad, Ernest Hemingway, escritores do mar e da viagem, Shakespeare, os musicais, num percurso de globalização cultural, um pouco à imagem da obra multifacetada do Autor.
Outro aspecto original das obras referidas é o uso das ilustrações, entradas de dicionário, caracteres de outras línguas como ilustração da mensagem escrita, o que transforma estas obras em objectos híbridos, ora em torno da etiqueta infanto-juvenil, ora mais próximo das reflexões melancólicas de um adulto face à vida e à língua em que nos emocionamos e vivemos, ou mesmo das memórias de aprendizagens escolares na infância.
Não sendo gramáticas nem romances, também não são apenas contos, estão próximos das estratégias das fábulas, mas têm, por vezes, um contexto entre o fantástico e o real, não deixando de ser ensaios sobre a Língua Francesa, o que impossibilita um público estanque, permitindo vários tipos e níveis de leitura.
Esta tendência, no que se refere à abordagem literária / lúdica da Gramática tem outros precursores / seguidores no panorama literário francês, como Pennac ou Rambaud, por exemplo, que para além do uso da narrativa, usam também outras abordagens como o diálogo ou o género epistolar.
Em suma, Orsenna dedica estas obras à Língua Francesa nos seus aspectos didácticos, literários e culturais, fundamentando o uso da gramática como tema de uma narrativa didáctica, mas também literária e cultural, aspectos incessantemente veiculados pela Língua.
Apresentado em 03/2009 no 8º encontro nacional da APP e publicado nas actas desse encontro